Poderemos Converter a AutoCrítica e conhecer os seus Benefícios?

 

É bastante comum julgarmos com maior facilidade aqueles que se encontram ao nosso redor do que nos avaliarmos por temermos a autocrítica.

 

Não gostamos de nos avaliar, nem de reflectir sobre a nossa forma de estar, agir perante os erros que cometemos, ou sobre a capacidade que possuímos por-nos autocorrigir, embora todos nós tenhamos a capacidade de perceber que os nossos actos espelham consequências.

 

De facto só quando reflectimos sobre isto, conseguimos identificar as nossas limitações vs. possibilidades.

 

Só deste modo conseguimos avaliar a saúde do nosso autoconhecimento e neste sentido capazes de aprender com o erro e mudar.

 

Contudo existem formas que nos ajudam a travar o julgamento, sendo que as mesmas parecem integrar estes exemplos:

  • Prestar maior atenção ao que se passa à sua volta, não só em termos de opiniões como em críticas, juízos de valor procurando sempre avaliar as situações e contextos, assim como as suas preocupações e receios, mas sobretudo aprenda a retirar partido disso identificando sempre o lado positivo, que lhe permita acrescentar soluções viáveis e expectativas realistas, procurando distanciar-se do comportamento, para que se aperceba que uma determinada forma de reagir é circunstancial e nem sempre identitária.

 

  • Coloque questões sobre o que de facto verdadeiramente o incomoda e procure respostas que escondam s verdadeiras razões para que determinada coisa tenha acontecido, ou que o tenha feito sentir-se desse modo.

 

Tudo isto é importante, mas é necessário perceber que a autocrítica é uma voz negativa que surge na nossa mente com uma narrativa muito individualizada, que nos julga, crítica através de pensamentos que na maioria das vezes não só se encontram num modo de funcionamento automatizado, como também se apresentam distorcidos da realidade (crenças).

 

Estes pensamentos traduzem um julgamento negativo a nós próprios, tendo um impacto na forma como nos sentimos, sendo frequente a manifestação de emoções como desadequação, inferioridade, bloqueio ou até uma certa incapacidade na tomada de decisão.

AutoCritica

 

É frequente existirem padrões comportamentais que são reconhecidos

e que estão presentes na base subjacente à autocrítica.

 

Estes mesmos pensamentos de julgamento, de crítica, quando direccionados a nós próprios, encontram-se muitas vezes associados a crenças, não só sobre nós mas também à forma como olhamos o outro no mundo.

 

Por outro lado estas crenças dão origem a esquemas de funcionamento, acompanhados de pensamentos negativos que traduzem a voz crítica, formando-se precocemente e que perante estímulos leva-nos a processar essa informação e a integra-la de forma a dar-lhe um significado, conduzindo-nos em situações que se encaixam nesses esquemas já conhecidos, dando-lhes sentido pessoal ajustado à sociedade e à cultura.

 

Estes mesmos padrões que ao longo da via se tornam rígidos vão-se reforçando ou alterando ao longo a vida, permitindo saber como agir no futuro nos vários domínios de cada um.

 

São de facto padrões bem consolidados e robustos, duradouros na forma de sentir e de pensar, sendo que os mesmos são responsáveis pela construção de esquemas mentais que dão origem a crenças e estas por sua vez a pensamentos que terão um impacto no nosso sentir e no nosso comportamento.

 

No entanto e na realidade os pensamentos na sua maioria contêm erros e de um forma consciente ou automatizada, são distorcidos o que enviesa a nossa forma de interpretar a realidade, como por exemplo:

  • Pensamentos que avaliam a nossa capacidade de agir e perante a nossa experiência em categorias exclusivas, opositoras e extremistas, do tudo ou nada;
  • A Abstracção Selectiva que posiciona o individuo num contexto em que o mesmo só dá importância aos erros, ao que lhe corre menos bem, fixando-se no insucesso da perspectiva de um acontecimento ocorrido;
  • A Desqualificação do Positivo é naturalmente associada ao seguimento da distorção cognitiva em que a pessoa tende a desqualificar, desvalorizar ou até mesmo a neutralizar o sucesso do seu desempenho.

Este tipo de pensamento enquanto distorcido ocorre lado a lado, isto é, se por um lado a pessoa se foca no negativo, por outro ela tende a desqualificar o lado positivo.

  • Por último a Rotulagem é passível de ser melhor identificada, quando nos atribuímos rótulos a nós mesmos, sem procurar antes avaliar as causas que estão na base do insucesso ou dos acontecimentos que correm menos bem.

Mas será que precisamos mesmo da AutoCrítica?

Será que podemos retirar algum benefício da AutoCrítica?

 

Se por um lado a autocrítica possui uma conotação destrutiva e negativa, por outro parece ter um papel que vai mais além e que está ligada à satisfação de uma das nossas necessidades psicológicas.

 

Contudo só é possível de reconhecer algum beneficio inerente à mesma se esta estiver em equilíbrio com a autovalorização.

 

No fundo é subtrair desta autocritica todos os pensamentos distorcidos que após a sua análise, permitam dar sentido, progredir e melhorar novas perspectivas na tomada de decisão, escolhendo padrões de acção mais funcionais e adaptativos, equacionando a valorização e tudo aquilo que espelhe qualidade e que possa impulsionar para novas opções.

 

Ainda que a autocrítica seja conhecida por uma voz interna negativa e por vezes muito destrutiva, é importante que mesmo assim a mesma sirva para mobilizar e não para paralisar.

 

Neste sentido para que a autonarrativa se modifique e se apresente motivadora, devemos criar novos padrões de pensamento que nos permitam criar hábitos mais duradouros e flexíveis, que permitam identificar as distorções nos diversos domínios da vida de cada um.

 

Quando pensamos em mudar a nossa forma de pensar, por repercussão os nossos pensamentos transformam-se num hábito que deve ser treinado, modificando o nosso comportamento e por conseguinte os padrões de esquemas mentais.

Resumindo podemos tentar retirar algum beneficio da autocrítica desde que a mesma esteja em equilíbrio com a autovalorização satisfazendo essa necessidade psicológica, identificando pensamentos distorcidos, questionando os mesmos, procurando substituir por um pensamento alternativo, realista e adaptativo.