ABORTOS DE REPETIÇÃO

A perda fetal recorrente é de difícil aceitação e constitui um factor de stress face à idealização de gestações posteriores.

A frustração ao acesso da maternidade através da impossibilidade de gerar ou de não conseguir dar continuidade a uma gravidez evolutiva, induz o casal a vivenciar uma crise de natureza bastante diferente de todas as outras, potenciando consequências que acarretam sentimentos de profunda desesperança, culpabilização e depressão, atingindo sobretudo a mulher, não só na sua identidade como na relação com os outros.

A actuação do psicólogo, ainda que pontual, neste momento em que ocorre o aborto é fundamental, para que junte do casal, os ajude a facilitar a elaboração do luto, uma vez que todo este sofrimento persistente nem sempre fácil de ultrapassar, devido à sua intensificação requer referenciação para o acompanhamento psicológico.

É bastante frequente observar-se sentimentos associados a reacções depressivas (tristeza, vazio interior, desesperança, frustração, culpa e revolta), decorrentes de abortos de repetição que se intensificam e ganham cada vez maior impacto na auto-estima do casal e idealização de um filho desejado, projectando muitas das vezes num futuro próximo, a procura compulsiva de novas gestações.

O aborto tem uma conotação extremamente negativa e é considerado como a interrupção da gestação antes das 20 semanas, podendo ocorrer pela perda de um feto com peso inferior a 500 gr.

Para além deste acontecimento ser vivenciado como um momento nefasto é igualmente considerado como uma das piores frustrações da vida reprodutiva do casal.

O aborto tem uma expressão espontânea e é a intercorrência frequente na gravidez sendo a sua incidência estimada entre 10% a 25% em todas as gestações.

O aborto de repetição é definido após a ocorrência repetida de abortos consecutivos em que o casal experencia três ou mais perdas.

As causas de aborto podem ser variadas, sendo o factor idade bastante preponderante na recidiva da recorrência, mesmo para aquelas mulheres em que já ocorreu uma gravidez e que actualmente o casal não consegue uma nova gestação que chegue a termo “Infertilidade Secundária”, nesses casos, a existir algum problema deverá ser investigado.

É relativamente frequente em mulheres com mais de 35 anos, existir 10% de gestações que terminam em aberto, sem causa aparente, por outro lado, 85% possuem uma causa genética.

Entre as causas de aborto conhecidas, destacam-se: as genéticas / cromossómicas, uterinas / anatómicas, imunológicas, auto-imunes, hematológicas / trombofilias, hormonais e infeciosas, endocrinológicas / metabólicas.

Os abortos de repetição por sua vez podem se apresentar como: precoces (ocorrem até às 12 semanas), sendo comuns alterações genéticas, infeciosas e imunológicas. Já os tardios (ocorrem entre a 12ª. Semana e a 20ª. Semana), e as causas mais frequentes podem se manifestar através de malformações uterinas, incompetência cervical (dificuldade do colo do útero se manter fechado até ao final da gravidez).