Quando abordamos a questão do Ciúme é usual ouvirmos “Quem Ama Cuida”!

 

Perante tal afirmação e se tivermos em conta que o amor é um sentimento voltado para o outro, onde se quer o bem de quem se ama acima de tudo, percebemos que o ciúme é uma distorção desse zelo, sento um afecto auto-centrado, no qual se tem medo de perder a exclusividade sobre a pessoa amada, isto é, existe um sentimento narcísico em que o ciumento tem medo de perder a posse (exclusividade) sobre o parceiro.

 

Neste exemplo, existe um sentido não voltado para o outro, mas para si mesmo, para quem o sente.

 

É um sentimento egocêntrico que pode estar associado a uma terrível sensação de ser excluído da relação, a qualquer momento. O ciumento sente-se ferido e humilhado no seu amor-próprio.

O CIÚME PODE SER VISTO COMO A MANIFESTAÇÃO

 DE UM COMPLEXO PROFUNDO DE INFERIORIDADE DA PERSONALIDADE

 

No ciúme, o sujeito por não possuir as qualidades que estão fora de si e do seu controlo, e que são idealizadas na noção de erotismo da relação, leva que este sinta uma necessidade extrema e incontornável de se sentir amado, tropeçando na aceitação da não perfeição de si, tomando sempre o que está fora de si, como necessário para a manutenção da sua própria vida afectiva.

 

Por outro lado, a subjectividade com que é vivido o ciúme é determinada pelas próprias fantasias e vivências da sua infância, na relação primária da tríade pai-mãe-bebé.

 

O Ciúme é assim elaborado, pelo medo da perda de objecto (parceira/o) ou pela raiva do seu possível rival, sendo que o ciumento poderá manifestar a sua intencionalidade relacional, através de três tipos de expressão:

  • O Normal / Competitivo ( o mais comum nas pessoas sem patologia no dia-a-dia das suas relações afectivas);
  • O Projectado (revelando sentimentos como angustia, instabilidade, insegurança em relação a si próprio e fragilidade da sua relação afectiva, levando a um estado de tensão permanente: temendo a traição ou o abandono, necessitando permanentemente confirmar que o seu parceiro não está sendo infiel, mantendo o real);
  • O Delirante (na maioria presente nas Neuroses / Paranoico, onde a desconfiança cede lugar a uma certeza infundada “acreditando mesmo que está a ser traído);

 

Os ciumentos tendem a desejar a continuidade no relacionamento, sendo-lhes muito difícil abrirem mão do seu investimento naquela relação, comparativamente com outros sujeitos que não sentem o ciúme como algo ameaçador à sua estrutura e sobrevivência afectiva, aceitando melhor a possibilidade de término de uma relação, organizando-se para algo que deve ser construído diariamente.

 

Foram encontrados em sujeitos ciumentos baixos níveis de orientações para o futuro e satisfação no relacionamento, concluindo que quanto maior a necessidade de continuidade do relacionamento, maior será o nível de ciúme sentido e menor a satisfação no relacionamento ao longo do tempo.

 

De outro modo, esta distorção afectiva, pode estar na origem de um profundo vazio emocional que se manifesta em idade adulta, herdado de uma falha emocional muito primitiva, que teve lugar na infância.

 

A infância é uma fase muito importante e delicada na construção da nossa confiança, estima, valorização e relacionamentos.

 

De igual modo, é também na infância que são geradas carências e todos os problemas afectivos e emocionais que nos causam dificuldades na nossa vida adulta.

 

Ao crescermos numa família destruturada ou com pais numa relação disfuncional, provavelmente será difícil de receber a devida atenção e afecto, de que necessitávamos.

 

Em criança, de facto existe grande adaptação e só mesmo mais tarde, em idade adulta, tudo aquilo que vivemos, irrompe a nossa vida com maior intensidade, manifestando nas nossas acções, relações e decisões o quão afectados fomos no passado e o quanto isso por vezes dificulta a nossa vida na actualidade.

 

Por exemplo, podemos estar com um parceiro com o qual passamos a vida a cobrar-lhe conforto, atenção, contentamento, daquilo que não nos deram, deslocando para ele a responsabilidade da nossa felicidade, e ainda assim continuarmos a sentir vazios.

 

Neste sentido, o vazio emocional faz sentir a pessoa como que, incompleta, insuficiente. Levando a mesma a preencher esse vazio com pessoas, coisas, apenas remendando o verdadeiro motivo.

 

Muitas pessoas tentam preencher esse mesmo vazio com materialismo (compras, comida, etc) de forma compulsiva, que posteriormente a levam a um “peso” de consciência, numa tentativa de colmatar e distrair daquilo que realmente lhes causa dor e desconforto.

 

Noutros casos, existem pessoas que preferem optar por preencher esse vazio com outras pessoas, às quais se prendem, manipulam e utilizam para não se sentirem sós.

 

Ainda que por vezes este vazio emocional não seja identificado de forma consciente ou sentido de igual modo, este, causa dor, desespero e faz com que nos prendemos áquilo que nos alivia.

 

Sendo assim, é o momento indicado para deixar de encher esse vazio com coisas inúteis ou materiais, parando de culpabilizar os pais e assumir a responsabilidade pela sua felicidade, até porque ela é apenas, nossa, e só a nós nos diz respeito construi-la e mantê-la.

 

O vazio emocional só é passível de ser atenuado, se começar por decidir preenche-lo com amor-próprio!